Vera Pires Coelho,
ex-presidente da Edifer, deu uma
grande entrevista ao Expresso no início de Abril onde tem algumas passagens muito interessantes. Vera Pires Coelho chegou à liderança da Edifer aos 33 anos (há 22 anos atrás) após a morte do seu pai. Formada em economia, Vera Pires Coelho conseguiu levar a Edifer a figurar entre a lista das grandes construtoras portuguesas. De seguida vamos falar de algumas
passagens da entrevista que Vera Pires Coelho deu ao Expresso, onde, entre outros assuntos, aborda-se a crise da Edifer, a tentativa de fusão com a Engil, o futuro da construção em Portugal, e o futuro da agora ex-presidente da Edifer.
A ORIGEM DA CRISE DA EDIFER
Segundo Vera Pires Coelho
o erro foi a empresa financiar-se com a actividade corrente dado não conseguir financiamento. Este erro foi provocado pela crise da economia que limitou o acesso ao financiamento por parte das empresas. A somar a isto os clientes da empresa não conseguiam vender, e por consequência não pagavam, o que levava a que os fornecedores da Edifer também não pudessem receber, e o ciclo não parava.
A situação da Edifer tornou-se insustentável. E ao contrário do que se diz, a culpa não foi do negócio imobiliário que apenas representa 5% a 10% do volume de negócios.
DÍVIDAS DO ESTADO À EDIFER
O valor anda entre 30 a 40 milhões de euros. Além disto, a ANA - Aeroportos de Portugal rescindiu um contrato com a Edifer, originando um litígio em tribunal onde a construtora se afirma lesada em alguns milhões de euros, quer do contrato rescindido, quer de uma obra anterior.
DESPEDIMENTOS E SALÁRIOS EM ATRASO NA EDIFER
A Edifer conseguiu negociar as rescisões abaixo do que é habitual, cerca de 0,7 salários por ano de antiguidade. Em Novembro tinham já reduzido o número de pessoas em 700. Além disto houve trabalhadores com 4 meses de salários em atraso. A ex-presidente da Edifer atribui à cultura empresarial a responsabilidade por apesar destes factos nunca ter havido uma manifestação à porta da empresa e outras medidas do género por parte dos trabalhadores. A comunicação constante com os trabalhadores foi decisiva na calma com que a Edifer conseguiu passar estes momentos.
APROXIMAÇÃO DA EDIFER À ENGIL E À OPCA
Em 1996 a Edifer fez uma aproximação à Engil para tentar uma fusão das empresas. A negociação durou 6 meses mas acabaria por falhar no fim, trazendo alguma instabilidade à empresa nos anos seguintes. Mais tarde a empresa tentaria a aproximação com a OPCA, mas as negociações falharam e terminaram mesmo quando a OPCA comprou a Sopol e deu origem à OPWAY.
CONSTRUÇÃO EM ANGOLA
Apesar da crise da empresa em Portugal, o negócio em Angola corria bem. O problema é que o Grupo Gema, sócio com 50%, restringiu a liberdade de repatriamento de capitais, o que levou a que não se conseguisse utilizar os milhões conquistados no país africano para equilibrar a construtora em Portugal. A realidade em Angola é assim, e quem para lá vai tem que perceber que o funcionamento é este.
PANORAMA ACTUAL DAS GRANDES EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO EM PORTUGAL
A legislação sobre as insolvências é uma aberração na opinião de Vera Pires Coelho, e provoca um grande dano, muitas vezes por dívidas pequenas. A ex-presidente da Edifer percebe que para pequenas empresas muitas vezes é o desespero que as motiva, por não terem dinheiro para sequer pagar a mão-de-obra, mas isso acaba por prejudicar irremediavelmente a estabilidade e imagem das empresas de quem se pede insolvência. Actualmente, das grandes construtoras, só a Teixeira Duarte paga a tempo e horas. A entrada da Edifer no fundo Vallis, alvo de algumas críticas no presente, não será considerada negativa daqui por seis meses, e já terá a companhia de outras grandes construtoras.
CONSTRUTORAS PORTUGUESAS NO ESTRANGEIRO
Pelo mundo fora só vê grandes grupos internacionais a concorrer às grandes obras, além das construtoras portuguesas. Na sua perspectiva isto mostra que os portugueses são fantásticos. Contudo este é mais um dos motivos que a leva a pensar que o fundo Vallis é uma inevitabilidade, pela necessidade da criação de um grande grupo que possa ter capacidade de actuação internacional.
O FUTURO A CURTO PRAZO DA CONSTRUÇÃO EM PORTUGAL
"Toda a indústria da construção, de uma ponta à outra, pode ser varrida do mapa." Vera Pires Coelho não hesita em fazer esta afirmação e não está a falar apenas das construtoras, refere-se também às empresas dos mármores, das tintas, etc. Chegou-se a um ponto aonde as pessoas têm que pedir para pagar a electricidade ou a alimentação diária de um filho.
O FUTURO A MÉDIO E LONGO PRAZO DA CONSTRUÇÃO EM PORTUGAL
Aproximam-se anos que serão uma travessia no deserto, e é uma tristeza os recursos financeiros que o país tem desperdiçado, como por exemplo no caso da ligação ferroviária em alta velocidade. Os fundos comunitários vão-se perder, está tudo parado.
O FUTURO DE VERA PIRES COELHO
Neste momento aproveita para tirar umas férias com o marido, vai andar de mota para Marrocos. Depois irá pensar no futuro, mas sabe que não irá conseguir ficar quieta. Após 20 anos a gerir um grande grupo, a sua motivação está virada para grandes projectos, acha que a sua estrutura mental não está formatada para um pequeno negócio. Além da construção, no passado já trabalhou nos seguros, mas considera a construção um sector fantástico. Afirma mesmo que construir pontes é fascinante.
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